11.6.11

Adeus. 10 Junho, 2011.

Os funerais são sempre uma merda. Coloco asneiras neste texto para dar ênfase à minha dor. Existe uma quantidade insuportável de energias éticas na Igreja. Hoje há um certo desespero pelo bem reflectido nos olhos de cada rosto que chora a tua morte. Corpos vestem roupa preta, bocas caladas que exprimem o silêncio dos mortos. Mas amanhã voltaremos a invejar-nos uns aos outros, a maldizer o próximo pela calada. Só que nesse amanhã não estarás cá tu para persistir na cintilação das almas.
E o que é uma alma? Olho para ti, deitada e só vejo um corpo, rosto pálido totalmente maquilhado e de olhos fechados. "Perdemos a dignidade quando morremos e ainda possuem o descaramento de nos tornarem belos para sermos comidos pelos bichos." Dizias. Então, também tu morreste sem dignidade.
Desculpa se não chorei por ti. A minha mágoa não se revela com a queda de lágrimas, revela-se no aumento do meu cansaço. Perco tudo, agora até pessoas.
O que serve a mim amar-te se agora não o posso dizer? "És uma menina especial. Um dia vão-se cansar tanto de te julgarem, contaminarem-te de pré-juizos, que irão aprender sozinhos a utilizar o reconhecimento da tua pessoa. Como membro da tua família, a minha aceitação por ti é verdadeira e não por seres sangue do meu sangue. Mas sim por saber muito bem que tudo o que fazes é com uma pureza inacreditável." Foram as últimas palavras que ouvi de ti. E ainda tive o descaramento de te responder como um humano fragilizado abandonando a cabeça para cima e para baixo afirmando agradecimento. Nunca te disse o quão grata realmente estava por me admirares. Tive a fraqueza, toda a fraqueza do mundo.
Aceita a minha última flor, rosa branca como a tua palidez facial. Deixo-a ao pé das tuas mãos imóveis, sabendo que nunca terei coragem suficiente para admitir a tua morte e deixar-te mais rosas brancas.